O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, escapou da acusação de ter interferido nas investigações sobre o suposto conluio com a Rússia. Entretanto, o relatório do procurador especial Robert Mueller divulgado nesta quinta-feira (18) mostra que só não houve interferência justamente porque assessores de Trump desobedeceram ordens do presidente que obstruiriam o inquérito.
Com 448 páginas, o relatório também inocenta Trump de ter agido em coordenação com a Rússia durante campanha presidencial de 2016. Porém, o texto relata também que o então candidato do Partido Republicano aceitaria a ajuda dos russos por "interesses em comum".
Além disso, o texto final apresenta alguns trechos censurados, com uma tarja preta sobre eles. Em alguns casos, eles apareceram com uma justificativa "risco à matéria em análise", o que levantou críticas e suspeitas por partes dos opositores de Trump. Veja imagem abaixo:
Quase dois anos de investigação
A investigação durou 22 meses – o resultado era aguardado pelas lideranças do Partido Democrata para, caso o inquérito incriminasse Trump, abrir processo de impeachment contra ele. No entanto, em março o procurador Mueller enviou a Barr o relatório final com a recomendação de inocentar o presidente dos EUA.
A preocupação do presidente norte-americano era tanta que, de acordo com o próprio relatório, Trump se assustou ao saber que Robert Mueller havia recebido a nomeação como procurador-especial, em maio de 2017:
"Meu Deus, é terrível. É o fim da minha Presidência. Estou f...".
Veja as principais conclusões da investigação, segundo o resumo do relatório concluído no mês passado:
- A Rússia interferiu nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA, hackeando computadores de democratas e através do uso de mídias sociais;
- Trump e pessoas ligadas a ele não participaram dos esforços russos e são inocentes;
- Não ficou provado que Trump obstruiu a justiça durante a investigação;
- A decisão se Trump obstruiu ou não a justiça ficou na mão do procurador-geral e de outro procurador, e eles avaliaram que o presidente é inocente.
E agora?
Formalmente inocentado, Trump comemora o fim de uma batalha judicial que poderia derrubá-lo do cargo. A própria liderança do Partido Democrata no Congresso norte-americano admitiu não haver motivos para abrir processo de impeachment contra o presidente.
Entretanto, a oposição ainda quer entrar a fundo na conclusão de que Trump ordenou a equipe que obstruísse a investigação. Além disso, parte dos democratas não está satisfeita com a declaração de que não houve conluio do presidente com a Rússia quando ele ainda era candidato.
"Uma coisa é clara: o procurador-geral Barr apresentou uma conclusão de que o presidente não obstruiu a justiça enquanto o relatório de Mueller parece ter cortado essa constatação", escreveram os líderes democratas em declaração conjunta.
A oposição também deve levar em frente o pedido para revelar os trechos do relatório que foram divulgados borrados.
Em entrevista coletiva nesta tarde, o chefe do Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes, Adam Schiff, criticou a investigação. "Barr não é o advogado do presidente", ironizou.
"As atitudes da equipe de Trump foram desonestas, antiéticas, amorais e não patrióticas", acusou Schiff.
Faltou combinar com os russos
O relatório mostrou que o governo da Rússia considerava que haveria benefícios se Trump vencesse as eleições de 2016 – o que acabou se confirmando. A investigação também concluiu que a campanha tinha esperanças em ganhar eleitoralmente com as informações roubadas pelos russos.
A equipe de Mueller, no entanto, "não confirmou que membros da campanha de Trump conspiraram ou coordenaram com os russos atividades para interferir".
Para que isso tivesse acontecido, os russos e o time de campanha de Trump teria de ter trocado informações e que um reagisse às ações do outro. A investigação, porém, não encontrou evidências disso.
Trump reage com meme
Logo após o pronunciamento desta quinta-feira, Trump postou um tuíte para dizer que era fim de jogo para os "haters" (inimigos que o detestam) e democratas radicais.
Antes mesmo da entrevista coletiva de Barr, Trump foi ao Twitter para protestar. Uma das mensagens foi “assédio presidencial!”, que ele escreveu com todas as letras maiúsculas.
Depois, publicou um vídeo em que ele mesmo afirma, em diversos momentos e situações, que não houve conluio com a Rússia. No vídeo, comentaristas de TV surgiram para dizer o mesmo.
Ele já havia publicado a mensagem: "Maior embuste político de todos os tempos! Crimes foram cometidos por policiais sujos e corruptos e pelos democratas e seu partido!".
Depois do pronunciamento de Barr, Trump publicou o seguinte tuíte.