A última aparição dele em vídeo foi num sermão em que proclamava o califado numa mesquita em Mossul, no Iraque, cinco anos atrás, quando seu grupo estava em ascensão.
"Há um sério perigo não apenas pelo fato de que Baghdadi, o chamado califa do EI, ainda está vivo -- mas também porque ele é capaz de ressurgir para seus seguidores e reafirmar sua mensagem de 'nós contra o mundo' depois de todo o progresso feito contra o grupo", avalia Rita Katz, diretora do SITE Intel Group, organização que monitora a atuação de grupos extremistas na internet.
Já foi dado como morto
As incógnitas em torno do líder do grupo jihadista Estado Islâmico (EI), Abu Bakr al Baghdadi, são incontáveis e aumentaram depois que ele perdeu o "califado" que proclamou em 2014 na cidade iraquiana de Mossul e que se expandia até a Síria.
Dado como morto em várias ocasiões, Baghdadi já costumava publicar mensagens de áudio encorajando seus seguidores a continuarem sua chamada "guerra santa".
Citando como fontes "líderes de primeira e segunda linhas" do EI, a ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos confirmou sua morte em 11 de julho de 2017, embora sem detalhar a data ou o local.
Abu Bakr al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico, durante sermão em uma mesquita de Mossul, no Iraque, em 2014. — Foto: Al-Furqan Media / Anadolu Agency / AFP /Arquivo
Esta informação foi divulgada quase um mês depois de o Ministério de Defesa da Rússia afirmar que Baghdadi poderia ter morrido em 28 de maio de 2017 em um bombardeio das forças do país ao sul da cidade de Raqqa, que era a "capital" dos extremistas na Síria.
Os Estados Unidos e a coalizão internacional que lideram duvidaram então de tal informação e já consideravam que o líder jihadista segue vivo, embora assegurem que já não se trata de uma ameaça, uma vez que vive escondido depois de se ver encurralado no vale do rio Eufrates, no leste da Síria.
Sua última "prova de vida" datava do último dia 22 de agosto, quando o EI divulgou uma gravação de 54 minutos por ocasião do início da festa muçulmana do Sacrifício. Al-Baghdadi pediu então aos seus seguidores para continuar com a luta, em mensagem cuja autenticidade não pôde ser verificada e na qual comentava fatos atuais, comprovando que era recente.
Quem é Abu Bakr Al-Baghdadi?
Nascido na cidade de Samarra, no Iraque, em 1971 com o nome Ibrahim Awad Ibrahim Ali al Badri al Samarrai, Baghdadi trabalhou como imã durante anos, antes de se unir à resistência armada contra a ocupação americana do Iraque, em 2003.
Foi detido e encarcerado no campo de prisioneiros de Bucca, administrado pelos EUA, em 2004, antes de se reengajar na luta jihadista.
Ibrahim, o antigo orador, também conhecido como Abu Duaa, optou finalmente pelo codinome Abu Bakr al Baghdadi al Hosseini al Quraishi, em homenagem a Abu Bakr, primeiro califa após a morte de Maomé, e à tribo do profeta, Al Quraishi.
Baghdadi é considerado um dos terroristas mais procurados no mundo, e os Estados Unidos oferecem US$ 25 milhões por qualquer informação sobre ele.
Wassim Nasr, especialista em movimentos jihadistas e autor do livro "Etat islamique, le fait accompli" ("Estado Islâmico, missão cumprida", em tradução livre), afirmou à agência Efe que Baghdadi "conhece a clandestinidade há 10 anos", razão pela qual sabe as técnicas para se esconder no território que conhece, como é a fronteira "aberta" entre a Síria e o Iraque.
Seja no deserto sírio, onde o EI tem presença, ou na província iraquiana de Ambar, que faz fronteira com a Síria, o líder jihadista dispõe de esconderijos, disse Nasr.
Segundo o especialista, a morte ou captura de Baghdadi não significaria o fim do EI, embora ressalte que seria um grande golpe para a organização, que poderia levar a algumas mudanças em sua estrutura.
Mas, em nenhum caso, provocaria o fim do grupo, uma vez que, segundo o analista, continuará atuando, como está demonstrando no Iraque, com ataques, assassinatos e sequestros, apesar de o governo iraquiano ter anunciado sua derrota em dezembro de 2017.